sábado, 11 de junho de 2011

O pouco ainda é muito.


Ambicionamos abundantemente, e então quando embolsamos o escasso, passamos a confiar que não merecemos mais aquele muito almejado.
Confortamo-nos com o pouco, e daquele pouco, que nos é dado, é exigido o muito, e passamos a acreditar que valemos pouco, mas podemos muito.
Até o momento em que damos o tudo e deixamos de desejar algo.
S.Q.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Valentine.


"Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro". - Mario Quintana.

Bee.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Particular.


Tenho uma vontade insana de me esconder em algum lugar misteriosamente maravilhoso. Tenho uma vontade sobrenatural de correr para onde a chuva me aqueceria. Umas vontades de ser, estar, pensar e apenas poder existir sem nenhuma satisfação a dar. Queria poder construir, com tijolos coloridos, um lugar onde a felicidade seria suprema. Reinaria. Mas, ao mesmo tempo, iria querer um lugar abstrato que fosse aconchegante e palpável. Seria muitas, mas sempre a mesma. Teria um príncipe com uma rosa branca. Ergueria um castelo de sonhos, onde os pesadelos enterrados sob a areia dourada, nada mais seriam.
E nesse lugar teria um caminho que me levaria para uma linda casa de madeira. E então, eu abriria a porta de maçaneta acobreada e lá, repousando no sofá, eu encontraria a outra metade da minha alma. Ela iria me sorrir e eu sorriria de volta. Um lugar só meu e que só eu posso e encontro. O que me deixa transbordar em felicidade é perceber que tudo isso existe e que está ao meu alcance.
Basta apenas adentrar os olhos teus.

Bee.

Muros




Mais um muro está sendo construído. E esse, não se sabe o motivo exato pelo qual foi criado.
Normalmente, ela cria esses muros com o intuito de se proteger de algo, para estar preparada quando a água bater ou para não deixar que o vento a derrube. Porém, desta vez ela tem uma impressão diferente. E isso fez com que a dúvida surgisse e a deixasse com a pulga atrás da orelha: este muro é para protegê-la de elementos externos ou é para protegê-la de si mesma?
Ela não tem certeza da resposta.

Pequena.

sábado, 21 de maio de 2011

Marca


Esforço me para lembrar de cada pedaço, cada espaço, cada sentimento, como se fosse perder tudo aquilo no exato momento em que adormecer, como uma perda de memória constante. Imagine que agora não há mais como lembrar exatamente como foi aquele primeiro beijo e que daqui alguns anos não conseguirá lembrar mais daquela festa, daqueles momentos de risadas ou daquele cheiro.
Não me entendas. Talvez seja melhor assim. Momentos que gostaria de guardar se esvaem, como pó.
E não fazer mais parte daquilo parece irreal e confuso. Lutar para guardar tudo aquilo; perfumes irrefutáveis, sensações inigualáveis e completude, nos torna pesados e mais ainda quando alguns desses momentos te irritam, te ameaçam e te enojam.
Não amo o que não tenho, o que não acompanha me pesa. Endurece-me e só me afasta.
Já que continuo a reter todos aqueles momentos, ruins ou bons, não é mais uma escolha e sim um processo. Sensações ruins vêm acompanhadas de momentos apavorantes, imagens que precisam ser refutadas e cheiros nauseantes.
Desista, o que pesa não deve te fascinar, nem todas as marcas valem.

S.Q.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Metal.


A janela parecia tão alta. Era algo épico demais. Sua alma descansava no corpo que descansava na larga cama centrada no meio do quarto. A camisola azul-petróleo encobria formas corporais delicadas, curvas que pareciam ter sido feitas por mãos artísticas perdidas na solidão. Pele pálida no lençol de seda pálido. Inquieta. Lábios semi-abertos.
Um terço pendurado por um prego enferrujado na cabeceira da cama.
A foto empoeirava em cima do piano no canto do quarto. Despertou com o baque do pesadelo. Seus olhos procuravam algum sinal de vida na vasta escuridão que se derramava no aposento.
Levou a mão de unhas avermelhadas em direção ao abajur. Claridade. Visão cega.
Deitada em forma de salvadora tirou os pés da cama. Tocou o chão. Seu corpo, sua alma, sua capa caminharam para a janela encoberta por uma cortina suja e rendada. Os pés descalços no para-peito, os cabelos mexendo ao vento. Uma voz. Uma negação.
‘Me encontre’. A voz. ‘Desça ao Céu’. Não sabia como, nunca iria descobrir. Estava postada na cobertura do prédio. Estirada ao relento que a abraçava como uma mãe abraça um filho moribundo.
A mão sobre o peito, sentindo os fracos batimentos do órgão que lhe roubava a vida.
Gosto de metal na boca. O vidro rolou para o lado. Metal tomando conta de suas veias, de suas artérias, de seu ser. Metal fazendo gemer cada parte de seus músculos, de seus ossos, de sua pele.
Metal encaminhando sua alma para fora de sua carcaça.
Gotículas. Gotas. Chuva. Tempestade. Presa ao concreto pelo peso da água. Como se fossem correntes da existência que ela tanto negara. Os cabelos negros formavam raízes emergentes da própria dor.
A carta, enrolada na mão, agora banhada no metal e na água, jazia junto ao que antes fora uma tentativa de viver. Estava descendo aos Céus. Acordando a vida que lhe morrera por dentro. Estava morrendo.
Apodrecendo ao relento.

Bee.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Amadurecer por completo


Não sei se devo confessar isso, mas muitas vezes quando chego em casa, cansada depois de um dia todo de trabalho e leituras, e depois de tomar banho, coloco músicas em que as crianças cantam. E não há o que explicar, mas aquilo me toca profundamente e me acalma, e eu penso: Pessoas são tão cruéis, tantas e tantas vezes, e crianças em grande maioria são anjos, que abraçam e beijam da forma mais pura.
E eu repito e repito as músicas, só pra ouvir as vozesinhas delas, e algumas até pronunciam algumas palavras erradas. Penso que não há como não gostar de tais anjos. Quando as escuto é como se lembrasse daquela cabana que eu estendia na sala, deitava em baixo e dormia, podia viver dentro daquela cabana, era quente, boa. E é assim que eu me sinto ouvindo as crianças cantarem e cantarem.
Quando estou mais reconfortada, eu gosto de escutá-las rindo, tem algumas risadas que aprecio em especial com um enorme carinho. Penso que depois que amadurecemos perdemos o encanto e diversos momentos de alegria, perdemos a forma de analisarmos o mundo de uma maneira mais pura e crente. Perdemos a noção de tempo do ócio.
Muitas crianças caracterizam as coisas pelo cheiro e pelo tato, e não por aquilo que estão apenas vendo, com faria um adulto. Amadurecer por completo é perder o que há de mais belo no mundo, é perder a esperança de conjunto, é perder o carinho em um abraço e a força que existe agrado.
É muitas vezes não saber nem dar e nem receber tais afetos, apenas se for de mulheres (no caso dos homens) e de homens (no caso das mulheres). Pequenos anjos doces não se preocupam em relações frias e rotineiras, e assim os admiro e admirarei sempre. Amadurecer por completo perde todo o encanto, e por isso, sim ainda faço e farei, ouço aquelas doces vozes cantando, e sinto o cheiro e o tato que bem entender.
Ah, você não faz ideia do que digo? Sinto em lhe dizer, mas não sabe mais sentir o cheiro que tanto falo e aprecio, e por você só tenho pena.

S.Q.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Porém.


Criatura inocente. Sangrando teu veneno através de sua doçura. Vendou-me, seduziu-me, provou-me. Matou-me. Agora me segue até o inferno de seus sonhos, até o paraíso de meus pesadelos. Nós jogamos de sua maneira, não? Suas unhas ainda estão com os músculos de meu coração, coração dilacerado. Arrancou-me.
Sangro a vida que você me deu. Cada pedaço de sua essência eu sangro.
Estou nadando em direção ao nada e do nada volto ao lugar nenhum. Preciso te dizer, mas quais as palavras, não sei. Vejo tua queda. Sadicamente vejo teu desespero. Prazerosamente eu te afogo. Afogo e me delicio nos teus pesadelos.
Mergulha em teus vícios. Aquela que não lhe deixa fechar os olhos. Olhos azuis.
Eu lhe espero na rua mais próxima. Caminha até mim. Leve-se ao inferno que me levou uma vez.
Porém, eu saí viva.

Bee.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sinto falta


Irritabilidade. Vontade de chorar. Bebidas. O querer e o não querer.
Sinto falta, não sei do que, nem do quando, mas sinto algo faltando. Algo dentro de mim, faltando quando acordo e quando vou deitar. Faltando dentro de um abraço, faltando dentro de um beijo, dentro de uma noite. Faltando dentro das coisas que faço e das que deixo de fazer.
Se perdi não sei, não sei ao menos se algum dia tive. Porém, sinto que falta. Uma falta dentro do ser, do estar, do aparecer. Olho as roupas e estas parecem que um dia tive vontade de me arrumar melhor de estar melhor e penso: Por que não mais?
Por que não sei se algum dia realmente estive. A falta na espera. A pobreza do olhar. Se olhar atento em meus olhos, e se assim conseguir, perceberás, se for atento, que ali falta algo. Algo que a dona do olhar mal sabe que falta, mas senti, e sentir é pior do que notar.
Sentir e não ter, e não saber é pior que esperar, esperar pra perceber, e perceber que é tão confuso, que mesmo que tenha, tinha, perdeu.
Tento então de forma simples, tola, procurar. Procuro em meu silencio, procuro em meu espaço, procuro em minha vontade de desaparecer, e na minha vontade de não ser vista. Procuro no vento cortando meu rosto à 80km/h, na dor das minhas mãos depois de muito escrever, na minha dor de cabeça. Procuro em meu banho e em meus amigos.
Não há meio, já percebi.
Sinto falta.

S.Q.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Branco.


O que sinto por você... não consigo descrever.
Apenas sinto.
E me disseram que eu escrevia lindamente quando estava triste.
Pensei em você. Automaticamente, pensei na felicidade.
Foi então que respondi à afirmação:
- Pois, então, que eu nunca mais consiga escrever novamente. Prefiro ter um livro em branco a ter milhares de páginas publicadas e, em nenhuma delas, seu nome aparecer.
Você deixa uma saudade tão doce que a ânsia de esperar o teu retorno me anestesia, e como você, meu amor, sempre me disse: Passa rápido.
Sim. Passa.
E a cada minuto estamos mais próximos e quando, finalmente, estamos juntos, a cada minuto estamos nos despedindo. É um círculo vicioso que não quero largar.
Serei sucinta. E como diria Mario Quintana:
“... eu te amo a perder de vista”.

Bee.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Luzes.


Eu me vi em um Bem-Te-Vi. Me vi bater asas e voar para o nada. Me vi caçando os sonhos e os colocando na terra. Me vi no topo de uma árvore que estava caindo. Vi o Bem e vi o Mal. Eu vi Deus e senti os demônios. Eu vi a chuva desaparecer nas nuvens. Me vi no espelho errado e me vi em minha alma.
Eu já colecionei cruzes e já perdi vontades. Quis viver. Quis morrer. Fui muitas e ainda sou eu. Me vi nos versos de uma canção inacabada, nas estrofes de uma poesia suicída. Me vi no sangue que fugia do meu corpo e já me perdi em minha mente.
Eu perdi minha fé e a encontrei em uma tempestade. Senti os espinhos cravarem minha carne enquanto tentava me encontrar.

Bee.

Perdida


Perdida um dia estive sem acreditar nas pessoas e no que podia sentir. Sem apego, sem carinho, sem doçuras. Amarga. A pessoa doce que havia em mim, tinha se perdido, como se eu tivesse antes três pernas e depois apenas duas, ainda conseguia andar, no entanto, parecia faltar algo em mim.
Aos poucos essa perna pareceu voltar, e como algo novo, ou algo que retorna do início, me incomodava profundamente. E me lembrar novamente, foi mais difícil do que me esquecer.
Contribuições tive, tanto no me esquecer quanto ao me lembrar. Boas ou más, não sou sábia e nem pretendo ter tanta petulância para julgar. Apenas estavam ali e contribuíram.
Hoje, com minha terceira perna novamente, penso que sem tal perda não seria o que sou, mais do que era antes, e também menos em outros tantos aspectos. Não valorizaria tais distinções.
Isso eu apelido de amadurecer, sim apelido, quem sou eu para nomear? Perder-se para encontrar-se. Alguns descobriram tais aspectos em amores entorpecentes , outros tantos em bocas amargas, outros em olhos faceiros, alguns mais em discussões ardentes, ou de milhares de formas derivadas. Eu descobri em beijos, em máscaras, em dizeres mal ditos, em opiniões mal desejosas, em amizades mal feitas e em milhares de faces.
Desejosa do bem, agradeço saber distinguir o que me afeta ou o que me consome, o que me enaltece ou o que me diverte, o que me libera ou o que me prende. Aprendi a sentir e talvez hoje digo que meu último pedaço que faltava foi completamente recuperado por você.

S.Q.